domingo, 30 de março de 2008

Como não se criar/manter um clube rotário

* Nos meus quase bem vividos tempos de associado de clube de uma grande organização não-governamental, o Rotary International, tive muitas oportunidades de trabalhar em conjunto com outros líderes para a criação e manutenção de entidades de profissionais e líderes em negócios. Confesso que na extensa lista de situações vividas e por vivenciar para o surgimento e funcionamento de um perfeito clube de serviços, surgem e surgirão fatos positivos e negativos. Isso é evidente aos olhos de quem se interessa, sem outras intenções (tais como fazer carreira na organização, mostrar-se aos companheiros e à comunidade, buscar projeção para galgar cargos públicos ou mesmo tentar se eleger com votos dos constantes crédulos em promessas eleitorais), pelo bem-estar dos cidadãos que fazem uma cidade/localidade/bairro crescer

* Digo que é mais fácil falar das coisas que não deram certo, aquelas passadas na busca de formar e funcionar um clube de serviços, contrastando com as milhares de formas e fórmulas exaustivamente difundidas pelos nossos líderes. Ensinam-nos que, para formar um novo clube de Rotary, busquemos primeiro quatro atividades distintas na localidade e se procure quem são os seus melhores e maiores líderes. Faça-se uma reunião com eles, explique-se o que é Rotary e as suas potencialidade de servir numa comunidade
Se você não fizer isso, reunir quatro líderes profissionais no início, descobre que esta será uma das coisas que não vai dar certo para o perfeito funcionamento do novo clube...

*Ensinaram-nos que, formando um novo clube com pessoas que se conhecem muito, que já têm um relacionamento pessoal ou de negócios, os caminhos para o sucesso - através do companheirismo e da amizade - apresentam boas perspectivas. Claro, quando se reúne um grupo de amigos, o companheirismo se ressalta, os planos e programas têm tudo para darem certo. Mas a tendência, na maioria das vezes, é que, quando algum desses companheiros quer ousar mais, atender aos ditames e às regras sugeridas pelas lideranças regionais e internacionais, como contribuir para a Fundação Rotária e seus internacionais objetivos de minorar as dificuldades de quem precisa, eis que começam a surgir fissuras no relacionamento grupal, contrariando aqueles que vieram ao novo clube apenas pelo companheirismo e pela amizade.
O companheirismo e a amizade são peças de comportamento fundamentais, desde que todos - todos, sem exceção - olhem além de si mesmos...

* O governador do Distrito recebe instruções na assembléia internacional principalmente para motivar os seus clubes no sentido de atender aos planos e metas de Rotary International. Cada presidente de RI têm suas ênfases, modificadas com base em óticas de crescimento e expansão dos seus planos e metas para o ano em que comandará, pelo entusiasmo, pelo carisma, pelo vislumbre de transformar a organização cada vez maior e melhor. Uma delas é manter e dar qualidade aos quadros sociais atuais, não perdendo um sócio sequer no ano. A outra é dar oportunidades de profissionais de localidades a ter uma nova entidade de prestação de serviços. Muitos dos governadores atendem essas duas metas - manutenção/qualificação e expansão - paralelamente, ou seja, tocam firmemente os dois programas. Mas, há alguns que escolhem um deles. O plano relegado a segundo plano demora várias gestões para retornar a ritmos esperados, positivos.
Se um dirigente esquece um desses dois programas de Rotary International, eis mais uma coisa que não vai certo na nossa organização...

* Mais um fato que muitos dos nossos antigos, atuais e novos dirigentes, governadores principalmente, vivenciam, sabem das situações e se mostraram, ou se mostram, impotentes de resolver: a entrada e saída de rotarianos de um ano para outro. É comum observar, com tristeza, quão expressivo é o número de novos rotarianos presentes em nossos treinamentos, em nossas assembléias e conferências. Vêm, participam, dão a sua contribuição, quando lhes dão espaços, e não retornam mais aos encontros, quando muito nem ficam mais na organização. Onde estariam os nossos erros? Seriam as longas palestras sobre deveres e obrigações dos membros, dos presidentes, diretores e responsáveis pelas áreas diretivas dos clubes? Seria pelo fato de que são sempre os mesmos a palestrar, a comandar os seminários e as forças-tarefas? Seria porque o item reconhecimento pelas coisas acontecidas inexistem e, quando existem, são apresentadas apenas como premiação e não como exemplos a serem seguidos pelos demais?
Reuniões prolongadas, palestras globalizadas ou globalizantes, temas distantes das realidades de cada clube e cada localidade afugentam os novos/recentes sócios e desestimulam sua permanência na organização...

* Vou parar por aqui, pois estou cometendo um dos pecados de comunicação bastante constantes em nosso meio rotário: textos longos, verdadeiros tratados às vezes ricos em comparações e conhecimento, são os que afugentam também qualquer cidadão, profissional principalmente, pelo tempo que tomam no seu dia-a-dia. Quando alguém envia um texto curto para nossas revistas oficiais e para-oficiais, ele é recebido de bom grado, a gente lê rapidamente e absorve seu conteúdo. Os longos exigem mais de quem quer acrescentar conhecimentos. São válidos, mas nos últimos tempos são os que mais constato. Leio-os e acompanho-os mais pelo meu hábito diário profissional.
Temos que lembrar que o tempo das pessoas para ler e aumentar o conhecimento está cada vez menor. O turbilhão de notícias que absorvemos, ou apenas ouvimos de passagem, pode ser também um dos motivos que diminui o nosso modo de servir à comunidade...

* Se você concorda com pelo menos uma dessas colocações, ouso sugerir que leve ao seu conselho diretor, ou ao seu clube, numa reunião forçada no tema, e debata qual ou quais seriam as melhores saídas para melhorarmos a nossa vocação de voluntários, dando de si antes de pensar em si...