quinta-feira, 2 de abril de 2009

Sou culpado, sim (1)

Levei anos para descobrir que existia um espaço para ser ocupado por mim neste mundo visto como cruel. Eram anos e mais anos e na minha cabeça estava esperando o dia em que estaria ocupando um lugar no contexto geral. Ele foi chegando e, com a maturidade, pensei algum tempo depois que minha vida podia fazer a diferença tanto para mim, para meus familiares quanto para os meus semelhantes. No jornalismo, iniciado ali pelos 18 anos, numa redação e num meio profissional atuante, cheio de professores atenciosos com o bagrinho que estava no pé deles aprendendo o ofício, assimilando a coisa toda, sempre tive a preocupação de transformar a notícia, boa ou ruim, imaginando (de forma inconsciente até, confesso) melhorar o mundo em que todos vivemos. Ou seja, nada de palavras difíceis de serem interpretadas.

Cruzadista inveterado nos bancos escolares e nos tempos de folga, chegando a desenhar/montar palavras cruzadas e enviar a uma revista permitida para leitura no Seminário Menor São Vicente de Paula, que as publicava mensalmente, lia praticamente o dicionário português em sua totalidade. Fazia redações simples, com as palavras normais e ia ao dicionário transformar cada uma dessas palavras simples numa diferente, melhor, no meu entendimento. E assim enriqueci (e talvez compliquei) o meu vocabulário, lendo de três a quatro livros por semana. A biblioteca do Seminário Menor, em dois anos, foi literalmente devorada pelos meus olhos e pela minha busca pelo saber.

Quero resumir essas colocações para dizer que vim de uma família pobre, mãe costureira e pai ferreiro por formação na Polônia (havia isso naqueles tempos, o profissional do ferro-e-fogo tinha que ser formado, aprender a fazer arado, ferradura, rodas de carroça com madeira e ferro, etc.) e, seguramente pressionada pela cultura européia, que não permitia que os filhos ficassem analfabetos ou semi-alfabetizados. Obrigava-nos, filhos, a estudar, a ser alguém na vida, segundo nos diziam a toda hora. No Grupo Escolar Presidente Pedrosa, ali na República Argentina, início da Rua Morretes, no Portão, lá estava eu estudando, qual peixe fora da água, indo descalço para a sala de aula por não ter sapatos. Lembro como era frio o chão da rua nos tempos de inverno da Curitiba de outrora...

Os demais passos escolares não foram fáceis, depois dos quatro anos de grupo escolar, tentei entrar para o curso secundário, sempre com dificuldades com a aritmética/matemática; levei bombas em dois exames de admissão no Instituto de Educação exatamente por não ter base e não gostar de números. No segundo ano de tentativa frustrada, puseram-me no Seminário, dizendo ao padre José Zajac, na época receptor de novos alunos, que talvez a minha vocação seria para o clero. Creio que ali foi o ponto de partida de minha vida profissional. Fui ensinado a ler, escrever e a viver em comunidade, em grupo, no esporte e nas regras de cidadania. Em dois anos, tempo em que fiquei ali em Araucária, penso ter sido moldado para os estudos e para a busca do crescimento pessoal, intelectual, sentimental e religioso. Ah, sim, e ingressar nos meandros da arte de liderar (isso descobri bem mais tarde).

Essa viagem pelo tempo vivido tem muitas situações ainda a serem reveladas. Vou dar um tempo no roteiro das reminiscências para concluir e justificar o título acima, de que sou culpado, sim. Vocês certamente vão concordar comigo.