quinta-feira, 3 de abril de 2014

Antes que puxe as pernas e tenha lapsos de memória

Antes de puxar as pernas ou ter algumas ausências de memória, creio ser tempo, ainda, de postar mais coisas neste blog. Há meses que penso em ativar a memória e botar para cá facetas que talvez interessem a alguns leitores e seguidores. Tenham compreensão se cometerei algumas inconveniências, pois é natural que isso ocorra quando se chega perto da quarta série dos enta.

Nos últimos meses, exatamente no dia 1 de dezembro de 2013, oficialmente completei cinquenta anos de jornalismo profissional, ou seja, na minha carteira de trabalho, a segunda das três que tive, está ali o registro como repórter de setor no jornal Última Hora, edição do Paraná, tendo naquela altura uma coluna de reclamações diárias, sob o título `Fala o Povo`, substituindo o colega Sérgio Almeida, que fora destacado para trabalhar junto ao poder maior da época, buscando novidades e notícias aos que estavam no Palácio do Governo, o Iguaçu. Era assistente, também, da coluna ´Luzes da Cidade`, cujo titular, Mauro Ticianelli, fazia cobertura de clubes que não fossem da classe A, apenas clubes de classe média, de bairros, associações diversas que promoviam bailes, saraus e matinês dançantes. Cabia a mim fazer a cobertura, entrevistar garotas bonitas, escolher fotos tiradas nas festividades aos sábados e domingos, percorrendo bairros numa Kombi do jornal. A equipe era formada por um motorista, um fotógrafo e nós, Mauro e eu.

A Kombi da UH que fazia a conhecida Ronda Luzes era aguardada em cada clube, de forma ansiosa, pelos presidentes e diretores sociais, entrávamos, fazíamos um relacionamento com os dirigentes e pessoas em geral, éramos bem anfitrionados pois isso garantiria constante noticiário na semana no jornal de maior circulação da época. O jornal era tão lido que, mesmo impresso em São Paulo, havia necessidade de reposição de exemplares duas ou três vezes ao dia. Seus títulos eram chamativos e provocavam boas e más reações.

Éramos, no jornal Última Hora, trinta e um profissionais, em funções extremamente competitivas, ninguém podia falhar um dia sequer, pois perderia o lugar na redação. Ganhávamos, na época, 30% a mais do que os demais jornalistas, redatores e repórteres dos demais veículos da cidade. Ou seja, nossa categoria como empregados da UH era invejada e bastante respeitada, e temida, pois o jornal, sendo de esquerda, constantemente era taxado de comunista. E seus membros, agentes do comunismo.

Minha primeira matéria assinada, antes de assumir a coluna ´Fala o Povo´, abordava a tradição das festas juninas e meu orientador foi o secretário de redação, Cícero do Amaral Cattani. Lembro que usei no título a palavra impecilho, tendo sido corrigido por ele que era empecilho. Eu, um escolado vindo de Seminário de Padres, errar aquilo foi um soco no conhecimento; para mim era quase ofensivo errar, ainda mais que fui, desde pequeno, um ativo cruzadista, ao ponto de ter palavras cruzadas publicadas numa revista que circulava no Seminário, editada em São Paulo. Depois disso, sempre que escrevia, buscava não errar uma palavra sequer e muito menos uma vírgula.

(vamos continuar nessa viagem vivida no milênio passado)