quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Escrever e falar são importantes, mas...

Fico pensando, na maioria das vezes e nos últimos tempos, se não estou ficando velho, inclusive nos pensamentos e raciocínios, quando tento acompanhar os acontecimentos ao meu redor. Vejam essa do governador Arruda, de Brasília, quando decretou a demissão do uso do gerúndio em todos os procedimentos dos funcionários do seu Governo, alegando que isso, esse modo de falar e escrever, estaria tornando o serviço público cada vez mais ineficiente.

Se foi para chamar a atenção de todos e aparecer na mídia e nos meios semi e intelectuais, conseguiu. Poderia chamar seu pessoal de recursos humanos (se é que essa área tem alguma valorização nos meandros politiqueiros e urneiros nas atuais gestões brasileiras) e determinar cursos de atualização e de procedimentos diante dos vícios de atendimento público. Poderia reciclar suas chefias e subordinados para melhorar o serviço público. Resolveu fazer reprimendas por decreto. Aliás, escolha também válida para dar puxões de orelhas nos seus servidores.

Já participei de programas em que se faziam palestras e instruções de atendimento público, quando servi na Assessoria de Relações Públicas na Copel. Nossa orientação principal era dizer aos colegas que tinham contato com o público consumidor que os nossos patrões eram exatamente os nossos consumidores. Como naquela época o Governo do Estado tinha na Copel mais de 90% de suas ações, ordinárias e preferenciais (hoje tem pouco mais de 50%), natural que todos os paranaenses eram os principais patrões dos servidores da empresa de economia mista. Assim, nada de engamelar os patrões, era essa a nossa orientação. Pode ser que aí foi um dos motivos porque tantos paranaenses se orgulhavam de sua empresa, pois eram tratados com educação, atenção.

Mas, quando as empresas e os Governos ficam cada vez mais burocratizados, chefias são indicadas pelos fisiológicos dirigentes de partidos políticos, servidores passam até de forma natural a apenas cumprir o expediente e, se puderem, empuram os assuntos de suas visíveis responsabilidades com trejeitos, frases comuns cacoetadas e uso de termos que possam agradar naquele momento o interlocutor. O gerundismo é umas das boas armas deles. Vou ficando, vamos administrando, vamos enrolando.

E os outros cacoetes de linguagem? Como soa mal aos ouvidos o uso difereciado da pronúncia de algumas palavras na rádio, na TV e nas entrevistas! Vocês já ouviram, e se aceita até de modo passivo, aqueles radialistas e apresentadores de TV acentuarem o Párana, o Brásil e outras palavras para talvez se destacarem como profissionais da comunicação. Tudo bem que nossa língua deriva do latim, uma língua morta, mas ela deveria ser tratada como uma língua a ser sempre aperfeiçoada, em que a sonoridade tivesse uma marca de crescimento, de agrado.

Não sei bem como enfrentar tudo isso, o gerundismo, a falta de responsabilidade em tratar as coisas públicas ou mesmo como melhorar o mundo que nos cerca. Tenho a impressão que os estudiosos e os incentivadores por uma forma melhor de viver, de sentir e de se comunicar estão recolhendo suas armas, o conhecimento, o exemplo, com seus valores e dissabores.

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