terça-feira, 14 de agosto de 2007

Como passar 100 dias fora de casa (II)

Verdade que lembranças vão se esvaindo caso você não as registre. E é o que poderia acontecer se os leitores amigos não acompanhassem o escrito aqui e familiares não me cobrassem continuidade da descrição. Claro que o que escrevo neste blog interessa mais a pessoas amigas e conhecidas com quem temos maravilhosos relacionamentos. Os que não conseguimos lembrar e nos acompanham nisso tudo a gente espera que compreendam esse egoismo do coração e dos sentimentos. Não queremos nos mostrar e sim dar algumas pinceladas, pelo verbo e pelo substantivo, da vivência em outras plagas, graças à saúde, ao amor à família e aos amigos que amealhamos, graças a Deus, nestes anos de convívio.

Pois a permanência nos Estados Unidos, durante mais de cem dias, na casa de minha filha Clarissa, do genro Sam e dos netos Sophia, Paula e Oliver, na cidade tranqüila de Pendleton, Oregon, serviu para provavelmente tentar afinar laços de família, mais do que tudo. Os tempos corridos da nossa profissão, de Cristina e mais de minha parte, em busca de espaço, de sobrevivência e de realização comum através de um casamento de laços respeitosos e de amor familiar. muitas vezes impediram que pudéssemos acompanhar a trajetória dos filhos em seu crescimento e desenvolvimento. O resultado disso tudo, atribulado, sim, em muitos sentidos, posso avaliar que foi proveitoso, embora deixasse alguns sinais, algumas marcas nas pessoas envolvidas. Então, sem me lembrar certo do que escrevi no artigo inicial, vou tentar continuar falando dessa experiência que poderia ser vista como fuga responsável, descanso, férias, aberturas da mente e mesmo resgate de valores e de laços.

Tive oportunidades em duas vezes de rever uma pessoa especial, a Dawn Davis, uma ex-intercambista de Rotary que conhecemos desde Cascavel e de Curitiba. Ela, que estava hospedada pelos companheiros do Rotary Club de São Miguel do Iguaçu, ficou conosco muitas vezes, criando fortes laços com meus filhos Clarissa, Alessandra e Cassiano. Tornou-se uma irmã deles e uma filha nossa. Sim, temos filhos adotivos pelo coração, como ela, Jaye e mais um quarteto querido que se encontram nos Estados Unidos e na Polônia. Pois a Dawn abriu sua lindíssima casa que possui na cidade de Camas, Washington, perto da cidade de Portland, primeiro para Clarissa, Sam, Phia e Paula, eu e Cassiano, na volta do Cassiano para Curitiba vindo de York, Inglaterra, nas suas férias. Hospedou-nos com fidalguia e amabilidades, junto com seu marido Tim, batemos longos e animados papos e colocamos os assuntos em dia. Na segunda vez, eles nos hospedaram, quando eu, Cristina, Phia e Paula a visitamos, num final de semana de julho. Houve teatro, recital de piano e outras atividades, além de um especial copmpanheirismo, com Dawn dando show de sapateado e as meninas tocaram algumas músicas ao piano. Matamos verdadeiramente a saudade e constatamos que amigos existem e que não há fronteiras e nem distâncias, para cultivar a fraternidade.

A família de Clarissa e Sam Clark tem um costume que poderia ser visto como estranho: não assiste programas de TV, apenas curtem filmes, ouvem rádio eventualmente mas acompanham a vida local, regional e internacional pela Internet. Definição de pessoas com mestrados e doutorados. Há uma explicação nisso tudo: o tempo que se passa diante da tela, vendo programas repetitivos e pouco educativos, pode ser usado para outras atividades, como leitura, exercícios, aulas de natação, escotismo, brincadeiras em parques e jardins. No começo, você estranha muito, parece que alguma coisa está faltando, mas com o passar dos dias a gente vai se acostumando. Na verdade, as notícias que prendem mais atenção nas TVs, e isso todos vocês podem comprovar e testemunhar, são de desastres, acidentes, mortes, guerras, temas policialescos, atos de corrupção e de enganações. Enfim, eu que sou comunicador, se tivesse que editar algum jornal nos Estados Unidos, numa cidade como Pendleton, direcionaria a pauta de assuntos mais para o lado pessoal, conhecimento geral sobre amor, relacionamentos entre vizinhos, revelação de talentos e possibilidades de estabelecer, na comunidade, coisas positivas pelo bom viver. E os jornais dali, na verdade, não dão notícias policiais, apenas casos de fugas de presos, queimadas pela região diante dos longos tempos secos. Curiosidades de conteúdo do jornal local, o East Oregonian, que é entregue diariamente em 62 casas pela minha Neta Sophia nas redondezas de sua casa, quase no centro da cidade: registram as mortes ocorridas, os falecimentos das pessoas da região, ocupando muito espaço nas edições diárias, dando um resumo do que foi e do que fez o falecido. Nascimentos não têm destaque algum. Curioso, sim.

Sobre esse costume de não ligar TV é bom que se diga que é bastante interessante e até posso dizer, salutar. O que vi eu, nesse tempo todo? Filmes em DVDs, mais de 100, emprestados gratuitamente pela Biblioteca super montada na cidade, fitas alugadas e, pelo meu novo laptop, acompanhei todos os acontecimentos do Brasil pela BanNews. Emissoras de rádio de Curitiba, como a CBN, a Rádio Club, eram ligadas pelo computador para acompanhar os jogos, muitas vezes desastrados, do meu time, o Coritiba. Ah, sim, e sessões de cinemas, quando do lançamento do Ocean, Harry Potter e outros bons filmes, a terceira edição do Piratas do Caribe, o Shrek 3.

No lançamento mundial do filme de Harry Potter, a coisa pegou feio, principalmente para Cristina e Sophia, que ficaram desde as 3 horas da tarde para a abertura da venda dos ingressos, às 23,30 horas. Levaram cadeiras, biscoitos, bebidas e lá ficaram, num sol abrasador, junto com outros jovens, algums que vieram de longe às 6 da manhã do dia, acampando no estacionamento vizinho ao cinema. Vez por outra eu ia até lá para levar lanches e bebidas geladas e eu mesmo me acoplei à fila ali pelas 22 horas. Na hora do início da venda dos ingressos, eis que metade da fila fez o que fazem nos campos de futebol no Brasil, ou seja, furou a fila e embolou na nossa frente. Foi uma confusão danada, não resolvido pelos gerentes de plantão do cinema. Polícia, nem foi lá, de nada adiantaram os nosso reclamos pela falta de educação dos invasores de fila. Mas, como estávamos bem na frente, uns dez clientes adiante de nós, conseguimos, assim mesmo, bom lugar na platéia. Era curioso ver tantos jovens, grande parte trajada como o Harry Potter, curtindo o filme. E nós ali, Cristina e eu, de cabelos brancos (eu, claro), junto àquela juventude toda. Foi muito divertido. Vovô e vovó com a neta Sophia vendo Harry Potter à meia noite, no cinema. Com direito a refrigerante e pipoca, sim, com muita manteiga.

Já disse que fui jardineiro durante 100 dias, tentando florir e esverdear o jardim da aprazível casa da minha filha. Primeiro, limpei tudo, tirei as coisas nocivas e que só tomavam espaço e fertilidade da terra aguada duas vezes por dia. Semeei um monte de flores, algumas nascendo e a maioria revirada pelos pássaros, gatos e esquilos, morrendo. Compramos muitas flores e muitas folhagens. No final, pedindo desculpas pela meta não atingida totalmente, acho que o jardim ficou bonito, pois recebi hoje a informação de que estavam comendo os tomates que plantamos nos canteiros. Acho que as abóboras e as melancias serão comidas, pois as deixei bem bonitas. Genro Sam instalou alguns bicos de irrigação e a Sophia ficou encarregada de olhar diariamente o ´nosso´ jardim. Na despedida, tirei algumas fotos, para me lembrar dessa experiência de jardineiro, sem a ajuda que tenho aqui na minha chácara do Adão e do agora caseiro Divaldo.

Trabalhei com a Clarissa em transcrições de entrevistas por várias vezes, como já faço aqui no Brasil, virtualmente. Foi uma ótima experiência trabalhar ´in loco´, embora o mundo virtual não tenha fronteiras, distâncias. Usamos novos fones de ouvido, implantamos bons softwares de MP3 e curtimos momentos legais, no trabalho, sempre naquela agonia de enviar a tempo e na qualidade costumeira.

Em termos de presença e participação rotárias, estive várias vezes no clube local, tendo feito minhas recuperações. Vocês sabem que todo o rotariano, uma vez aceito em Rotary International, tem algumas obrigações: primeiro, ele foi aceito no clube pela liderança em sua profissão; nessas condições, viram nele aptidões de incentivar ações e atividades que busquem a melhoria de sua comunidade e a paz e a compreensão mundiais. Uma das obrigações é estar numa reunião de 1 hora por semana num clube. Ou, se não puder, pode recuperar onde estgeja num clube semelhante. Isso eu fiz. Outra obrigação é elevar o padrão ético em sua atividade profissional, na família e no meio em que vive. Isso eu acho que consegui manter durante os 100 dias que estive fora, visitando o clube e mantendo contatos com membros do clube ou participantes de programas rotários. Um deles, o John, membro da associação de natação da cidade e amigo de Clarissa e Sam, esteve recentemente na Austrália, como membro do IGE. Descreveu, em alguns encontros que tivemos, a sua maravilhosa experiência.

Quando Cristina chegou a Pendleton, conseguimos fazer alguns programas bonitos com as netas, a filha e o genro. Claro que ela fez os bolos de cenoura que a Paula adora, e que chega a comer metade deles numa sentada só, os saborosos pierogis, algumas tortas, sopas. De minha parte, apenas fiz uma vez os meus bolinhos de batatas, que foram curtidos sim, mas como são de certa forma gordurosos, não puder repetir a dose. Gostaram muito dos espetinhos que fiz algumas vezes, depois do primeiro susto que tive quando comprei pimentões no mercado! Cada um, e eu comprei uns 6 ou 8, custava mais de 1 dólar! Fiquei maluco pelo altíssimo custo deles. Nas outras vezes, comprava um ou dois e fazia render nos palitinhos... O Clarissa, que alegava não saber cozinhar em algum tempo, hoje se esmera maravilhosamente nos seus macarrões, nas suas densas e saborosas sopas; já o Sam, que gosta de cozinhar, comprou uma churrasqueira nova, a gás, e quase toda semana tínhamos churrascos, hamburgueres de salmão, de carne, etc. E sempre nos maravilhava com pratos gostosos, além das matinais panquetas. E a gente costumava curtir donnuts comprados num fabricante chinês, quase toda a semana.

Bom, as lembranças ainda estão vivas e iremos em próximos artigos revelar a vocês, sempre pedindo perdão pelo tempo tomado nessas mal traçadas linhas, ou medianamente bem traçadas linhas. Até.

Nenhum comentário: