quinta-feira, 3 de março de 2011

Cantinho Métio (VI)

Vamos para mais uma viagem ao passado infantil. Deveria ter uns seis ou sete anos e as brincadeiras possíveis lá em Serrinha, Contenda, onde morávamos, eram com bodes e cabritas. Todos os moradores tinham alguns desses animais, principalmente para leite. Não me lembro de ter comido cabrito, mas acho que em alguns momentos da família deveria ter havido carne nas refeições.
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Era comum aparecer caminhão tirando madeira dos bosques adjacentes. O modo de cortar as árvores chegava a ser rústico, no machado e nas serras puxadas a dois. Para colocarem as toras nas partes mais abertas, nos carreiros onde os caminhões podiam estacionar, cavalos encilhados arrastavam as ditas sob o comando, sob gritos dos adultos. Era um quadro que o menino via e procurava imitar.
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Como tínhamos alguns bodes, um ou dois eram por mim usados para fazer o mesmo, no tamanho infantil. Pedia para algum adulto cortar uma torinha para minhas brincadeiras. Com barbante forte, ou cordinhas formadas por uvaranas, 'encilhava' um ou dois bodes e amarrava a torinha para ser puxada. Pelo que ainda me lembro, as quedas e os esfolamentos de joelhos, mãos e braços eram constantes, quando não o rosto, que vivia arranhado. As cordas arrebentavam, os bodes fugiam e eu ali, estalado no chão, com a frustração da brincadeira interrompida...
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Desse local há lembranças da ferraria do meu pai Francisco, que ficava perto de uma aglomeração de casas e da escola. Muitas vezes, imitava meu pai ao esquentar um ferro e tentar, com martelo, na bigorna, fazer uma faca ou mesmo esticar o metal. Houve uma vez que me escapou o pedaço do ferro e atingiu canela da perna, com muita dor e me deixando um sinal, uma marca até hoje visível. Acidentes infantis, na tentativa de imitar ações dos adultos...
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Outra atividade infantil era apanhar canários terra, colocar em viveiros e vender para os passantes. Possuía muitas gaiolas, que eu mesmo fazia, usando painas e filetes de taquaras, alfinetes, fixados e amarrados entre si. Alçapões também, um tanto rústicos mas que apanhavam as pobres aves. Canarinhos amarelos, super amarelos, cantores, faziam parte do meu patrimônios para vendas. Pintassilgos também eram apanhados nas lavouras e nas beiradas de estrada. Não posso hoje me orgulhar dessas atividades, mas eram coisas e fatos que ocorriam no mundo de uma criança curiosa, ávida sem sentir pelo porvir.
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Depois que nos mudamos dali, quando tinha uns oito anos, para morarmos em Curitiba, na Rua Morretes, 88, bairro do Portão, ficaram apenas as lembranças das peripécias de menino. Nunca voltei para aquele lugar, mas ainda tenho tempo de, ah, tenho sim.

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