quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Cantinho Métio (III)

Quando menino, claro, pois estas histórias são da época, era comum minhas tias Sofia e Guênia deixarem o que restou das não vendas de verduras nas feiras livres para meus primeiros negócios com as vizinhas, que me conheciam pelas traquinagens no bairro. Punha tudo num carrinho de mão e lá ia eu a bater nas portas e nos portões das casas, vendendo e abastecendo semanalmente as minhas compradoras. Eram sempre as mulheres quem compravam, agradecendo.
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Pois não me atinava que tinha tendências para vendas. Isso somente aprendi quando tinha uns trinta anos, que a vida é cheia de negociações, trocas, negócios. Mesmo quando tive meu primeiro emprego, já com 14 anos, de balconista no armazém de Artur Feld, na Engenheiro Niepce da Silva, no Portão, carregando sacos de coisas do paiol para o interior da venda, nunca imaginava que poderia ser um vendedor. Tinha meus e minhas clientes, servia a todos mas nunca vislumbrei ser um vendedor.
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Hoje posso dizer que esse negócio de vendas está em qualquer pessoa. Se não tem coisas a vender, vende a sua própria mão-de-obra, como profissional de qualquer ramo, seja intelectual ou fisicamente, e muitas vezes a gente se vende muito barato, por um salário, por uma remuneração que permite sobreviver, ter coisas, aumentar seu consumo, abastecer seus apetites e sonhos de patrimônios.
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Ou seja: descobri que minha primeira atividade remuneratória estava num carrinho de mão, batendo porta em porta e amealhando uns bons trocados que davam asas à imaginação de ter minhas balas, comprar papéis e painas para fazer raias, pipas, pardorgas que, naturalmente, eram negociadas com os meninos com menos habilidosos nisso, mas abonados.
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Vidinha boa, aquela e hoje com lembranças das amadas e bondosas tias...

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