segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Reféns e agruras na própria arapuca

Quando se pensa um pouco - nos dias atuais parece que até isso vai ser taxado com imposto - a gente começa a pontuar alguns tópicos da nossa atribulada, incompreensível na maioria das vezes, vida urbana.

Você resolveu morar na cidade, de preferência perto do centro ou mesmo próximo a um ponto de ônibus. Conseguiu uma morada, podendo ser casa, apartamento, apart-hotel ou pensionato. Se é de sua propriedade, beleza, você é um vencedor. Começa aí a sua luta: pagar IPTU, taxas de iluminação pública e de coleta de lixo, energia elétrica, água, esgoto, jardineiro se tem jardim em casa, condomínio se tem apartamento, telefone, TV a cabo, internet banda larga. Não para aí a coisa.

Para ir e vir, você deve ter contribuído para a calçada que foi implantada em frente de sua morada, individual ou coletivamente. O padrão da calçada, embora você tenha pago, é definido pela Municipalidade, na passividade evidente sua, pois o material ali aplicado foi escolhido pelo Município e este quis que fosse com pedras que normalmente são tropicantes, ou seja, você, ao andar por ela, só tropeça e se acidenta.

Se você tem casa, ela seguramente não é segura, precisa erguer altos muros e contratar vigilância, entregar chaves de sua morada para que uma empresa ou um grupo de vigilantes zele por ela. Se tem apartamento, você deve ficar atento quando o condomínio contrata firma com seus itinerantes porteiros, zeladores. Vez por outro, o seu próprio apartamento é invadido por meliantes que perneiam no seu bairro ou na sua quadra.

Na sua morada, você certamente não se preocupou com a fiação de energia elétrica, normalmente foi usado o material mais em conta, ou seja, insuficiente para mover os dezenas e cada vez mais crescentes aparelhos adquiridos pela sua também crescente necessidade de viver com mais conforto na cidade. TVs, fax, computadores, banda larga, tevê a cabo, relógios, geladeira(s), fogão elétrico com acendedores idem, forno elétrico, máquinas de lavar roupa e louças, secadora, fones sem fio, carregadores de pilhas. Resultado: as chaves caem por vezes e a conta é cada vez maior para o seu sofrido bolso... E quando falta energia, como aconteceu semana atrás com as tormentas e chuvas de pedra na cidade de Curitiba? Cáos no seu dia-a-dia. Imaginem o transtorno vivido pela população quando 49 bairros ficaram sem energia num cair da tarde e início da noite!...

Se você tem alguma propriedade, ou mora, na área rural, a coisa então é mais caótica ainda. Em Araucária, por exemplo, você chega a ficar um ou dois dias sem energia elétrica, pela falta de um programa de melhoria da concessionária. Grudado na área urbana de Araucária, por exemplo, os moradores de Roça Velha, Roça Nova, Santo Estanislau, Colônia Cristina e mais dezena de localidades rurais, ficaram em dois dias mais de 10 horas em luz. Quando você ligava para o atendimento, a resposta sempre era que houve muitos acidentes e que eles estavam se comunicando com o serviço de emergência para resolver o problema. Ou seja: quem depende da energia na área rural está ralado, fadado a se sentir ilhado. E dá-lhe queimar velas e mais velas ou querosene (ainda há, e muito, por ali!) de suas lanternas...

Poderia continuar com rosário de situações vividas por quem escolheu viver os benefícios da área urbana ou o que se imaginasse em ter conforto na tranqüilidade da vida no meio rural. Somos mesmo reféns da nossa própria expectativa de uma vida mais confortável. Delegamos a servidores públicos e privados, pagando altos valores por isso, tarefas de nos oferecer mais conforto e mais qualidade de vida e eles estão cada vez mais distantes dos nossos sonhos pessoais.

Confesso que, nestes raciocínios gratuitos de uma segunda-feira amena, vislumbro dias cada vez mais complicados. Oxalá o meu otimismo por um mundo melhor não seja atropelado pela falta de responsabilidade de quem nos administra, pois continuamos passivos nos reclamos e nas cobranças que cada cidadão deveria fazer.

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