quinta-feira, 14 de junho de 2007

Como tirar a vaca do brejo, literalmente

Atendendo a insistente expectativa da ex-caseira Tereza, fui compelido a comprar uma vaca, que levou o nome de Mimosa, e seu bezerro, para limpar meu pasto reduzido à beira do Lago Passaúna. A compra foi feita de modo mais sentimental e de pena do que qualquer outra emoção. Quando fui acertar a negociação, vi que era um animal magro, quase raquítico, que precisava de mais cuidados. Seu olhar era um pedido desesperado de "me leva daqui, me compre". Nem levei em conta o valor pedido, comprei e levei para o sítio.

Primeiro, tive que verificar as vacinas e as necessidades básicas para ter comigo dois animais. Era sua primeira cria, estava dando pouco leite, mas fui levando.

Nos primeiros dias, vi que a vaca era uma cerqueira, ou seja, gostava de pular a cerca em busca de vegetais. Não foi uma e nem duas as vezes que tivemos que buscar a dita fora do cercado.

Mas, desde os primeiros dias, ja na ocasião da compra, costumava acariciar o focinho dela; ela lambia minhas mãos e parte do braço.

Num certo dia, recebo um telefonema da caseira de que a vaca tinha caído de um barranco de quase seis metros e estava à beira da água e, de jeito algum, não saía dali. Cheguei ao local e fui informado de que ela foi puxada até metade do barranco mas, numa certa hora, empacava e voltava ao lugar onde estava, quase dentro d´água.

Meu primo Silvestre disse que vaca era assim mesmo, quando teimava era pior que burro, empacava. Sugeriu que a gente esperasse uma hora, mais ou menos, para haver nova tentativa de tirá-la dali.

No meio do almoço, sou chamado de novo pela caseira que me informava ter a vaca entrado na água, estava com meio corpo dentro do lago. Alguém já tinha me falado que animal desse tipo não pode ficar mais de uma hora na água, pela probabilidade de seu sangue congelar e, conseqüentemente, paralisar seu corpo e o levar à morte.

Desci ao ponto onde estava meio submersa, acariciei seu focinho e falei de modo brando que teríamos que sair dali. Pedi ao filho da caseira que desimpedisse reduzida área do barranco ao redor do lago, tirasse dali galhos e arame farpado; peguei a corda, acariciei de novo o focinho da vaca e lhe disse para irmos andando.

Pois a dita, nesse momento, simplesmente saiu da água e foi me acompanhando, devagar, uns 100 metros na beirada de lago. Parava por momentos, olhava para mim e para o capim que cercava a área e foi andando, me acompanhando. Chegando numa parte mais firme, sentiu estar segura e subiu ao pasto, de modo tranqüilo.

Todo o pessoal que me acompanhava no momento ficou contente e ao mesmo tempo extasiado com a forma do animal obedecer. Ao contar o acontecimento para alguns parentes, fiquei convencido de que é possivel tirar a vaca do brejo, desde que se converse com o animal e tenha gestos amigáveis e carinhosos, inspirando confiança.

Ou seja, quase me lembrei daquele filme do homem que encantava cavalos. No caso, acho que fui um encantador de vaca…

Um comentário:

Cass Surek disse...

E nem precisou tocar flauta, como na história na qual o cara tira os ratos da cidade com sua música, hein? :)