terça-feira, 12 de junho de 2007

Exilado em Tomás Coelho!

Meu primeiro emprego como jornalista no combativo matutino Última Hora, edição do Paraná, aos vinte anos de idade, foi pras cucuias quando aconteceu o golpe ou a revolução de 31 de março de 1964.
Tinha iniciado atividades jornalísticas ali por março de 1963, tendo sido registrado como repórter de setor no dia 1º. de dezembro. A primeira e única orientação que recebi foi do diretor do jornal, Carlos Eduardo Fleury: “a partir de agora, você deve não apenas ler a notícia e sim ler como se faz, como se constrói a notícia. Sua leitura obrigatória diária estará nas páginas do Jornal do Brasil e Correio da Manhã”. E me deu um manual de redação do jornal UH, para conhecer e assimilar os termos uniformes redacionais.
Vez por outra fiz as vezes de repórter de plantão para as notícias de última hora. O jornal era tão ágil que fatos ocorridos até as 21 horas eram publicados na edição do dia seguinte, isso com a edição sendo impressa em São Paulo, a mais de 400 km de Curitiba.
Numa destas vezes, estava eu trabalhando na redação como plantonista, transmitindo matéria via telefone para SP, quando fui atingido no rosto por cacos de vidro da janela do Edifício Asa, na Voluntários da Pátria. Eram estudantes do Colégio Marista de Curitiba que estavam apedrejando o jornal, tido como comunista, por divulgar alguns fatos contrários à direita.
O quadro político e ideológico nacional estava quente, com os prós e contras dos grupos que queriam o poder. Uns, contra os janguistas; outros, pela reconquista do poder, sob a liderança do jornal O Globo e da TV Globo, com auxílio dos Diários e Emissoras Associados, de Chateaubriand.
Quando fecharam o jornal UH, seus jornalistas tiveram série de problemas. Uns foram presos ou indiciados pela polícia do Exército, outros estavam pressionados pelos órgãos estatais nos quais trabalhavam e uns terceiros ficavam esperando serem indiciados ou processados, todos como comunistas.
Eu, que recentemente havia tirado título eleitoral e carteira de identidade, nunca fui incomodado. Mas isso não tirou as ironias e gozações do meu primeiro mentor jornalístico, Mauro Ticianelli, que passou a informar a todos os meus amigos que nas duas semanas em que fiquei sem emprego, após o fechamento do jornal UH, as passei exilado na colônia Tomás Coelho, Araucária, localidade em que nasci e onde estava a maioria dos meus parentes.
Pena que não possa ter provas desse “exílio político e ideológico”, pois poderia buscar minha indenização junto à União, como muitos já fizeram, e alguns ainda o fazem, por ter sido confinado em Tomás Coelho... Tinha ficado na casa de minha mãe, preocupado em ter novo emprego que, em junho, foi nos Diários e Emissoras Associados, no jornal 'Diário do Paraná', onde fiquei até início de 1976.

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