domingo, 24 de junho de 2007

Quando se publica foto do caráter de uma pessoa

Um fato profissional que não me orgulha muito foi a vez em que recebi a visita de quatro jovens, de famílias abastadas e/ou conhecidas na cidade de Cascavel, que desejavam reclamar de ato de diretoria de um dos ativos clubes sociais da cidade, o Tuiuti Esporte Clube, que os tinha suspenso por mau comportamento.
Tanto insistiram em registrar a sua reclamação que pedi ao meu assistente José Ivaldece colher seus depoimentos para futuro aproveitamento em minha coluna diária do jornal local chamado “O Paraná”.
Alguns dias depois, na falta de mais material para a coluna, textualizei seus reclamos, omitindo alguns termos mais fortes contra a decisão da diretoria do TEC, e publiquei na coluna de domingo.
Houve certa repercussão, claro, pela nota dada. O normal seria que o clube enviasse esclarecimentos a respeito, mas não o fez. No decorrer da semana, eis que recebo, dia sim, dia não, cópias de declarações firmadas primeiro por um, depois por outro dos reclamantes, todos com registros em cartório, negando que tivessem dado as declarações à coluna e que aquilo era uma inverdade.
Bom, quando chegou uma carta desse tipo firmada pela pessoa que mais reclamou e que mais xingou diretores do clube por terem suspenso seus direitos sociais na entidade, minha paciência se esgotou, coisa rara na minha atividade como colunista social, diga-se de passagem. Afinal, coluna social na época tinha a função de promover a sociedade, falando de coisas boas e construtivas.
Peguei as anotações do Ivaldece, descrevi de forma pormenorizada os fatos ali constantes e relatei como ocorreram as coisas, desde a chegada dos reclamantes até alguns termos mais fortes ditos pelos mesmos ao meu assistente.
No final da matéria, como colunista social podia exarar opiniões mais pessoais, afirmei que finalmente, despois de mais de 20 anos de jornalismo, consegui fotografar o caráter de quatro pessoas: e incluí quatro quadros, com fundo preto, legendando os nomes de cada um deles.
No dia seguinte, o radialista e jornalista Paulo Martins, da Rádio Colméia, encontrando-me no mercado local, disse: “olha, Surek, eu nunca tinha visto um ferro tão bem dado, tão bem aplicado e merecido!”.
Reconheço que foi um senhor ferro, mas não me orgulho dele, pela extrema agressão ao bom senso jornalístico.

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